sábado, 24 de julho de 2010

Revivescências





Íamos um bando de mulheres, todas adultas, no carro a caminho da cidade. Estávamos voltando da Faculdade e tagarelávamos como adolescentes.
O percurso da Uneb até a rodoviária é feito em torno de seis a oito minutos, tempo que é gasto com um repertório de “prosa” que gira em torno de homens (claro!), roupas, queixas sobre os trabalhos do semestre e algumas bobagens; na verdade, uma boa quantidade de bobagens, para alegrar a vida, justificam algumas.
Um dia desses, dei carona a quatro colegas, mais ou menos as quatro de sempre. Conversa vai, conversa vem e, de repente, alguém soltou a palavra que ativaria o dispositivo do riso e de memórias guardadas há muito tempo: - Blá, blá, blá... Pêlos pubianos...
- O quê?! Eu entendi direito?! – diz uma, às gargalhadas.
- Pêlos pubianos, rapaz?! De onde essa menina tirou isto?! – fala outra, entre soluços de tanta graça.
Eu, por minha vez, ameacei-as de pagar uma lavagem completa no carro, caso eu urinasse ali mesmo, de tanto rir.
O motivo do riso das outras, desconheço; mas desconfio que deve ser algo parecido com o que me lembrei: quando eu era adolescente, havia um grupo de amigas, na escola, que viviam grudadas, participavam de tudo juntas: os projetos, as comemorações, os trabalhos, as “paneladas”...
Em um desses encontros do grupo, estavam todas empolgadas com o mais novo professor: ele não era bonito, mas todas estavam curiosamente encantadas, talvez fosse pela masculinidade, a eloquência ou a paixão pelo ensino, ou talvez pelo conhecimento que emanava dele, saindo pelos seus poros.
Elas, todas adolescentes, ficavam ligadas no professor, em todos os seus gestos, em todas as falas – passaram a amar a literatura, mesmo aquelas que não tinham lido uma única obra inteira dos clássicos.
Estavam, nesse dia, a conversar sobre o professor, que agora era o assunto favorito das conversas delas e, em meio a um burburinho desenfreado de adolescentes excitadas e tagarelas, a dissecar a sua mais nova vítima (o desajeitado professor de Literatura), Bibi soltou:
- Vocês não viram uma coisa!! Acho que só eu vi: no dia que o professor Raul espreguiçou na sala... – interrompeu a fala, em meio a pulos e gritinhos de contentamento.
- No dia que ele estava com aquela camiseta meio curta, sobre aquelas calças largas e perigosamente baixas no quadril?! – interrompeu Gigi, eufórica.
- E a barriguinha branca dele ficou à mostra?! – disse, exasperada, Mamá.
- Eu vi! Eu vi! – gritou, gloriosa, Tany.
E Bibi, com os olhos arregalados e aquela expressão de quem tinha inventado a roda, disse, vitoriosa:
- Ele espreguiçou, deixou bem à nossa vista a sua pele branquela, uma grande fileira de pêlos ruços, meio avermelhados – nós vimos os pêlos pubianos dele!! – disse isso e fechou a sua fala com uma gargalhada gostosa e safada (fiquei pensando: e quando ela for adulta?!).
Pois é, somos “adultas” hoje, e o episódio do carro fez-me sentir como aquela adolescente outra vez. Somos adultas?!

6 comentários:

  1. nós, professores de literatura, sofremos!!!

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  2. Quanta imaginação tiveram essas meninas!!! Pêlos ruços essa é muito boa. Quem será o próximo a sofrer nas mãos dessas adolescentes rsrsrsr.

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  3. Esse texto me fez lembrar de um acontecimento, de certa forma semelhante, que viví também em tempos idos...
    Gostei...Mas acho que o título para mim seria "os pêlos pubianos"...

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  4. E ainda tem gente que acredita estar no paraíso... rsrs

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  5. Gostei da ideia de Pêlos pubianos, Taís...
    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

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