segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Alma multicor

Alma multicor

 

Parda, eu?!

Minha bisavó foi índia selvagem

Pega “a dente de cachorro”

Pelo meu bisavô Justino

Nunes: filho de portugueses

Do lado materno

Não sei quantas vezes ouvi essa história...

Meu pai, Machado original,

De ascendência negro-portuguesa

Amulatado, que beleza!!

Agora, o governo diz que sou parda...

Cor da tez?

Parda sei que não sou:

Nem branca, nem negra, nem mulata

Pele acanelada indefinida – sei lá!

A alma, com certeza, é multicor!

No íntimo sou negra, branca, índia,

Mulata, cafuza e mameluca

Trago as marcas da violência

Da captura da índia Fulô

As cadeiras largas da negra Bela

A impertinência europeia dos Nunes e Machado

A brasilidade misturada e ousada

De uma identidade forjada

Na mixagem de diferenças

Sou todos e ninguém:

Alma multicor!

 

Irecê/BA, 16/10/2009

2 comentários:

  1. Adorei a parte:"Pega 'a dente de cachorro'
    Pelo meu bisavô..."Ja parece as coisas da minha avó!

    ResponderExcluir
  2. É, Dani, e aconteceu de verdade...
    Infelizmente, a violência contra a mulher vem de longe; o lado bom dessa história é que essa índia não foi apenas uma amante, usada e descartada, mas ela passou a fazer parte da família daquele português, embora de modo involuntário.

    ResponderExcluir